quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

JORGE E SUAS FERAS




JORGE E SUAS FERAS

Fonte: Acervo do autor
      Engana-se quem pensa que carnaval organizado em Passo de Torres é coisa nova. Os passotorrenses são foliões há muito tempo, diga-se de passagem, desde que começaram o povoado.  Este registro fotográfico de 1965 comprova esta afirmação, o local das disputas dos blocos  era no Clube que hoje se encontra a lancheria  “Los Troncos”, que é ponto de encontro no centro da cidade. O bloco que pousa para a foto era do saudoso “Tio Jorge”, um verdadeiro folião de carnaval que brincava com seus amigos e parentes.

        Graças a nossa cultura açoriana, os primeiros moradores de Passo de Torres brincavam com o tradicional “entrudo”, denominação que os portugueses davam à festa profana, que hoje chamamos de “carnaval”. Eram os três dias que precediam a entrada da Quaresma e historicamente era festa popular que acontecia nesses dias, em que os brincantes, trocavam pelas ruas, arremessos de baldes de água, limões-de-cheiro, ovos, tangerinas, pastelões, luvas cheias de areia, esbordoavam-se com vassouras e colheres de pau, sujavam-se com farinha, gesso, tinta etc. O folguedo vigorou até 1817 em Portugal e entrou em declínio no Brasil em 1854, por repressão policial, dando lugar ao moderno carnaval. Mas em lugares menos fiscalizados perdurou até o começo do século XX, como foi o caso de Passo de Torres. Porém, os foliões do Passo faziam uma pistola de taquara que esguicha água ao invés de baldes. Minha avó, que hoje teria mais de 120 anos, contava que as pessoas se cuidavam ao sair na rua, pois alguém poderia se surpreender com a pistolinha do entrudo. Muitas brigas surgiam, mas também muita diversão acontecia entre os moradores de uma pequena vila de pescadores.