quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Avenida Beira Mar na Década de 1950

Fonte: Acervo de Emílio Freitas

Nestas fotos se contemplam as vistas parciais da “Praia Grande” na década de 1950, cujos aspectos mais importantes são: a grande quantidade de banhistas, fator que levantou a construção em 1953 de uma torre salva-vidas no estilo norte-americano, influência do Pós-Guerra (1939-1945); a avenida pavimentada junto à beira-mar e os automóveis estacionados, todos da marca Ford Willians, confirmando a “tese” do meu saudoso amigo, João Barcelos, que relatou-me em certa ocasião, sobre  as fases culturais “germanófila” e “estadunidófila”, separando Torres em duas tendências que se resume em europeia e após estadunidense. Isto se percebe nas fotografias do acervo de nossa História, principalmente entre 1915 a 1980. Depois percebe-se uma fase mais eclética, devido à vinda em massa dos turistas argentinos e da “globalização”.
Podemos perceber também, na  imagem acima de 1954, que a Avenida Beira Mar ainda não tinha a famosa “Lomba do Calçadão”, pois neste período a encosta do sopé do morro ainda estava preservada, assim como todo o gramado onde fica atualmente a Praça Pinheiro Machado. E ao fundo, podemos avistar solitário, o Bar Abrigo, onde foi a primeira sede da SAPT, que foi erguido em 1937, e faz parte do patrimônio histórico de nosso município. Na imagem abaixo já se avista a lomba com paralelepípedos, possibilitando o trânsito de veículos direto da Rua José A. Picoral até a Avenida Beira Mar. Antes dessa obra os automóveis só poderiam vir pela "Rua de Baixo" (Rua Júlio de Castilhos).A Praia Grande na década de 1950 passou a ser um ponto de referência para quem buscava o “glamour” no balneário torrense, assim como procuravam espaço amplo para laser com  cadeiras dotadas de sombreiros (barraquinhas), para quem desejava proteger-se do excesso de sol como se comprava na fotografia de abaixo. Surgem as construções imponentes, que possibilitou o registro da foto de cima em uma sacada. As imagens são típicas de uma praia europeia do litoral mediterrâneo, capaz de confundir qualquer leitor se não houvesse referências, o que denota resquícios dos “Anos Dourados” no Brasil.


Fonte: Acervo de Madalena Martins





A Baleia que Explodiu




   Esta fotografia rara, que pertence ao meu amigo Vicente Knabben Junior, é de uma curiosidade impar, pois se trata de um filhote de baleia que apareceu morto à beira mar, no começo da década de 1970, na Praia de Fora (Praia de Itapeva mais ao Norte).       De acordo com a sra. Maria Vefago de Melo, secretária do Sindicato dos Pescadores de Torres, desde 1974, trata-se de um dia marcante para os torrenses, pois essa baleia foi dinamitada, para ser posteriormente enterrada em pedaços, com uma pequena escavadeira. Seu corpo já estava em decomposição e algo tinha que ser feito.          Entre os encarregados desta árdua tarefa, estava o saudoso Vicente Knabben (ao centro), que foi presidente da Colônia de Pescadores de Torres por muitos anos. Dona Maria acrescenta que no ano desse registro a Colônia ainda não era totalmente legalizada, existia uma espécie de voluntariado para poder fiscalizar a pesca em Torres, que era ligado ao Fórum da mesma Comarca. Além do Vicente, também participavam Ari Rodrigues, Aroldo Luz e Miguel Batista da Silva, o atual presidente do sindicato.         Algo semelhante aconteceu em 2010 na Praia Grande, porém a baleia, desta vez adulta, foi enterrada inteira, pois o município dispunha de maquinários maiores e mais eficazes, possibilitando a remoção do gigante dos mares, que está enterrado até hoje. Existe a possibilidade de seus ossos serem expostos em algum museu, quem sabe se o do Parque da Guarita?        Podemos observar também, os curiosos que estavam na volta do mamífero. Todos atentos sem perder nenhum detalhe da “missão” a qual o então secretário foi incumbido. Provavelmente ficou marcado para quem assistiu tal fato de perto, ou longe, por causa da explosão! 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Porto que não Saiu


Na metade do século XX “Torres” almejava ser uma cidade próspera com intuito de crescimento comercial, tinha ligação através da navegação lacustre pela Lagoa da Itapeva até Osório. A sociedade torrense estava passando por um clima de tornar-se uma cidade portuária, com estrada de ferro, e isso estava atraindo pessoas para a região das Torres. A partir desse momento os torrenses passaram a absorver a ideia de um porto, porém quatro tentativas fracassaram.
Na primeira tentativa o Brasil ainda era um Império. Um dos problemas de comunicação entre o vasto Império eram as suas vias de transporte. Aproveitando os recursos lacustres da região, que formavam um grande canal interligado naturalmente, cogitou-se a possibilidade de ligar essa via a um projeto maior, ou seja, um Porto Marítimo em Torres. O escoamento de produtos na Província de Rio Grande de São Pedro era muito precário. A entrada da Lagoa dos Patos era um acesso muito perigoso, tinham muitos bancos de areia e precisava de muito investimento para fazer um porto. De acordo com Ruschel (apud ELY, 2004) em 1857, o governador da Província tinha duas alternativas, ou fazer uma barra em Rio Grande (RS) ou a construção de um porto em São Domingos das Torres. Os engenheiros ingleses eram a favor, a ponto de orçarem o projeto em três mil e quinhentos contos de reis em 1861. Porém, por influências políticas muito poderosas, o porto passou a ser em Rio Grande (RS). Foi feito um relatório em 1875 para Londres pelos engenheiros, onde constava que um porto em “Torres” era mais viável economicamente, e em Rio Grande (RS) era mais difícil e mais dispendioso e obras mais inseguras. Mesmo assim persistiu a decisão anterior. 
Uma segunda tentativa foi durante o governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca que agonizava. Um dos motivos dessa crise foi a denúncia de que o então Presidente da República havia se envolvido em corrupção com o engenheiro da obra do porto de Torres, pois superfaturou-o. O então ministro Ruy Barbosa denuncia esse superfaturamento mencionado-o em uma carta enviada a uma reunião do presidente com os ministros, justificando que não era  contra a obra, mas sim contra a maneira que  estava sendo amarrado o contrato, beneficiando o empreiteiro, que era compadre de Deodoro. A maioria apoiou Ruy Barbosa, e o presidente contrariado, perde seus ministros que se dedicaram ao novo regime.
Devido à sua renúncia e à Revolução Federalista em 1893, a obra foi abandonada. Se fosse concluída, Torres seria hoje uma cidade bem melhor economicamente, mas por outro lado, estaria desfigurada, pois entre a Guarita e o Morro do Farol teria um grande cais. E também os torrenses seriam “deodorenses”, pois a vila se chamaria “Deodorópolis”, em homenagem ao presidente vaidoso. Anos depois, o seu vice-presidente Marechal Floriano Peixoto, assumiu a presidência e mudou o nome de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis (SC) como imposição aos catarinenses, outra vaidade. 


A imagem abaixo é, até o momento, considerada a primeira fotografia de Torres. Pode-se confirmar a obra inacabada do primeiro presidente da República do Brasil.
Molhes da Guarita – 1891[92]Fonte: Acervo João Barcelos, 2007.

Resquícios dos Molhes da Guarita atualmente.
Fonte: Casa de Cultura de Torres.

Na terceira tentativa, no ano de 1905, uma missão de capitalistas estadunidenses, que segundo Ruschel (1987, apud ELY, 2004, p.144), eram Mr. W. T. Van Brunt, Mr. Schrred e Mr. Everit, além de uma missão política gaúcha que vieram a Torres para sondar a possibilidade de reiniciar as obras do porto, iniciadas e interrompidas uma década atrás. Novamente o projeto não foi viabilizado, pois os investidores preferiram Santa Catarina por ter carvão abundante.

Projeto do Porto


Estadunidenses visitando a vila de Torres - 1905
E a última esperança foi quando Getúlio Vargas assumiu o governo do estado do Rio Grande do Sul. Em janeiro de 1928, Getúlio decidiu em sua visita a São Domingos das Torres, que deveria retomar a ideia do porto de Torres. Quase um ano depois, uma equipe técnica vem fazer novos levantamentos para tal possibilidade, mas por questões econômicas e políticas que pairavam contra o estado gaúcho, impossibilitou a retomada do porto. Quando Getúlio toma o poder federal, ascende nova esperança, mas novamente não foi possível fazer de Torres uma cidade portuária.


domingo, 12 de maio de 2013

A Caçada


















Um dos lazeres dos hóspedes do balneário era a caçada, prática hoje proibida ou regulamentada, mas para muitos turistas era um esporte que se pode praticar normalmente nos arredores de Torres. Este registro fotográfico é riquíssimo porque nos mostra o turista, de Porto Alegre, com uma indumentária que nos remete aos safáris na África, além de estar com seus cães caçadores de perdizes, que era muito comum na região. Outro protagonista desta aventura é o senhor Alfredo Petersen, o caçador de barba, com chapéu bem mais característico dos pampas gaúcho, um viajante que morava em Taquara (RS), e por 51 anos trabalhou como vendedor.  Ainda posa para a lente um menino, que já de pronto auxiliava o caçador em sua prática, assim aprendia muitas tarefas para o seu futuro. O local desse registro fotográfico é em frente o Farol Hotel, onde se hospedavam viajantes, turistas e outros transeuntes. O rapaz de bigode e casaco preto é o Jayme Pozzi, um dos proprietários do hotel. Todas as outras pessoas logo vieram para curiosamente conferir o resultado desta caçada que foi registrada através dessa fotografia da década de 1940.




sexta-feira, 10 de maio de 2013

O Futebol: um esporte popular no balneário de Torres




Estas images fotográficas de 1929 mostram uma partida de futebol à beira mar. Quem me passou essa foto foi a Sra. Maria Helena Lima, filha de Élcio Lima, esse, pai de um grande jogador de futebol, o popular Olímpio Lima. O Sr. Élcio Lima, que foi o primeiro eletricista de torres, também jogava futebol, além de ser um dos primeiros fotógrafos amadores de Torres. Sua máquina fotográfica está exposta no Museu Histórico de Torres. Poderia ser ele o fotógrafo desta imagem histórica, ou estar entre os atletas.
 O local da competição foi nas mediações da atual Praça Borges de Medeiros. Podemos imaginar que neste local havia um campo de futebol, pois ainda está preservada a grama original, um verdadeiro tapete verde onde podemos passar momentos de lazer com amigos e parentes, tomando um topetudo chimarrão nos tradicionais domingos na Prainha.
Os registros chamam a atenção, pela partida ter sido fotografada em movimento, fato não muito comum para a época, pois de todo o acervo fotográfico conhecido pelos torrenses, no tema futebol, em sua grande maioria são de jogadores parados posando para a lente do fotógrafo.




 Podemos observar também a partida sendo assistida por um grupo de pessoas bem trajadas (1ª foto), o que nos leva a crer que na década de 1920 o futebol já era um esporte popular em São Domingos das Torres. Outra constatação é que os jogadores estão todos uniformizados. Comprova-se então, que os futebolistas torrenses levavam muito a sério ao esporte mais popular do Brasil, que estava “engatinhado”. Isto justifica a tradição de termos bons jogadores por aqui.
Outra curiosidade, é que se observar a 1ª fotografia com uma lupa (prática que costumo fazer em minhas leituras das imagens) pode-se observar o guarda valas, como era chamado o goleiro, usando uma boina. E a segunda pessoa da esquerda para direita, que não está trajando uniforme, parece ser o juiz da competição usando um chapéu, uma situação muito engraçada para a atualidade; além de todos os cavalheiros atrás da goleira, que também estavam com chapéus, como era de costume, mas certamente num dia ensolarado no balneário, em uma época que não havia protetor solar.




segunda-feira, 6 de maio de 2013

Legalidade em Torres







Tenho dito que Torres, desde seu despertar, tem ligação com muitos fatos da História regional, nacional e mundial. Esta foto prova essa afirmativa. O fato é que se trata de uma manobra do III Exército brasileiro, durante um período conturbado no cenário político do nosso país, que foi a Legalidade, uma revolta civil e militar que ocorreu em 1961. O então governador do Estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, em defesa da Constituição brasileira, e também de seu cunhado, João Goulart (vice-presidente), montou um estúdio improvisado de rádio, no porão do Palácio Piratini, e discursou a todos gaúchos através de uma rede, a “Rede da Legalidade”, que também transmitia em ondas curtas aos cidadãos de outros estados. O objetivo era garantir que Jango (como era chamado o vice-presidente) assumisse a Presidência da República, que foi renunciada, em 25 de agosto do mesmo ano, por Jânio Quadros.  O local dessa fotografia é defronte ao Farol Hotel, na Rua José A. Picoral. No começo do mês de setembro de 1961, um comboio estava estacionado em frente ao tradicional hotel, com caminhões, jeeps e tanques de guerra, que pertenciam à Petrobrás. A empresa petrolífera, apoiou o governador gaúcho. Podemos observar também, ao lado direito da imagem, uma tropa enfileirando-se para alguma tarefa. O oficial que liderou e idealizou as manobras, a partir de Santiago, no Rio Grande do Sul, adentrando até o Paraná, foi o tenente-coronel Joaquim Ignacio Baptista Cardoso. Como Torres faz fronteira com Santa Catarina, o oficial decidiu passar pelo balneário, para conter o possível avanço dos opositores. Essa foto pertenceu ao Sr. Cesar Pinheiro, que no momento prestava serviço de mecãnico à empresa estatal brasileira citada acima, ele era casado com a torrense Beta Matos, filha do Sr. Manoel Venâncio de Matos, que foi o primeiro proprietário do tradicional Bar Brasília. Provavelmente os torrenses ficaram  apreensivos com a situação; imagina-se muitos comentários feitos pelos cidadãos que  circulavam entre a Matriz de São Domingos e a esquina da SAPT. O “clima” não estava para brincadeiras. Mas tudo ficou resolvido em 14 dias, o Jango assumiu e o comboio sumiu.






O Laboratório

Fonte: Acervo de Roberto de Freitas


Até o final do século XX, a História era rigorosa no que tange as fontes para as comprovações dos fatos. Só eram respeitadas as informações contidas em documentos oficiais ou livros aceitos pelos governos.   Atualmente com a História Cultural (nova prática da Historiografia), duas fontes, antes discriminadas, são muito consideradas: depoimentos e  fotografias. Um complementa ao outro, pois nem tudo que vemos é o que parece, distorcendo assim os fatos. Teóricos denominam o fotógrafo como: “o filtro cultural”, aquele que registra momentos que jamais se repetirão, e ao socializar as imagens, transmite mensagens com sua intencionalidade através do “clique”. E a posteriori, cabe também às testemunhas relatar o que se vê nas imagens para análises e confirmações que vão somar em prol da memória de cada grupo social.
Neste registro fotográfico, vemos o laboratório de fotografia do “maior filtro cultural” do município de Torres; trata-se do equipamento de revelação e reprodução de cópias fotográficas do Sr. Ídio K. Feltes, fotógrafo pioneiro muito mencionado atualmente e parte de seu acervo fotográfico está em  livros, trabalhos científicos e veículos de informações em colunas de jornais, em blogs, em sites, na rede social e outros.  Vários equipamentos fotográficos podem  ser admirados em um memorial, atribuído ao Sr. Feltes, no Museu Histórico de Torres, que pode ser visitado no Centro Municipal de Cultura. Mas o que vemos aqui são outros aparelhos, que o então empresário inovador investiu em seu promissor comércio. Graças à sua iniciativa, temos hoje um acervo fotográfico muito rico, que estão em plena fruição, ou ainda, salvaguardados em álbuns de famílias torrenses, veranistas e turistas, que aos poucos estão sendo, mesmo que pareça ser uma redundância, novamente "revelados" ao um público interessado em suas origens. Prova da importância da identidade de uma sociedade, que garante a preservação da memória, fator principal que une uma cultura.
Quem posa para a lente, no momento de trabalho no laboratório, era um dos fotógrafos da empresa, o Sr. Ruy Luiz de Freitas, que posteriormente passa a ser o escrivão do Cartório de Paz de Torres. No detalhe vemos o mesmo vestindo um jaleco, comprovando o capricho e os cuidados para o melhor resultado das imagens históricas da “Mais Bela”. 

domingo, 5 de maio de 2013

Cavalgando na Praça

Fonte: Acervo Casa de Cultura Municipal de Torres


        Os leitores de uma geração mais nova já contextualizaram o passado e a atualidade, no que tange o crescimento urbano e desenvolvimento da cidade. Essa fotografia de dezembro de 1949, diga-se de passagem, rara, mostra várias informações que podemos analisar: O protagonista que está montado em seu cavalo é o popular, para aquela época, o Sr. Antônio Preto, que era casado com Eunice Lima, irmã da minha amiga e colaboradora Maria Helena Lima.  Percebemos que mesmo sendo no centro, era comum o trânsito de cavalos e carroças neste período, outra análise é sobre o local,  que é na Praça da matriz, atual Praça Severiano Rodrigues da Silva, que ainda se vê a rua com chão batido e a relva do Morro do Farol preservada.
         Ao fundo no casario vemos a chaminé da usina termoelétrica, onde é hoje a Prefeitura, que seria construída dois anos depois. Em frente à chaminé vemos o armazém do Sr. Balbino de Freitas, onde era o centro das atenções da “vila”. E mais à esquerda da foto, a casa do Severiano, que foi prefeito em dois mandatos, sendo o primeiro entre 1948-51, e o segundo entre 1955-59.   Ao fundo, vemos parcialmente, a Lagoa das Torres e os eucaliptos à beira, que tinha a função de drenar o solo pantanoso. E por fim as dunas com areias bem alvas na Praia da Cal e Itapeva. Pelas vestes do Sr. Antônio, ouso em arriscar que o dia da foto foi num domingo, dia de missa e muita conversa do cotidiano de “São Domingos das Torres”.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Aérea do Rio Mampituba

Fonte: Acervo do autor
Este registro fotográfico, que é da década de 1950, nos mostra o Rio Mampituba com sua orla praticamente intacta, sem impactos ambientais. Poucas são as intervenções humanas, entre elas as balsas que observamos nas duas margens. Percebemos a vegetação originária bem preservada, como este capão (porção de mato isolado) ao lado da casa isolada, onde seria hoje o limite do lado oeste do clube da SAPT. O então prefeito, Severino Rodrigues da Silva, foi o pioneiro que possibilitou a infraestrutura daquele local, como terraplenagem, aberturas de ruas e a plantação das mudas de casuarinas (semelhante a pinheiro), que são estes pontilhados retilíneos que ainda os vemos atualmente nas mediações da Praia Grande. Esta planta tinha como função evitar que as areias se acumulassem e também porque é uma árvore alta que nasce na areia branca.
No lado de Passo de Torres destaca-se as poucas casas dos habitantes que formavam uma comunidade voltada à pesca. A casa maior perto das balsas é a Casa da Rede de Baixo, uma sociedade de pescadores do rio. E ainda no lado catarinense, no local onde de se avista uma vegetação adentrando o rio, seria a partir de 1964 a primeira ponte pênsil, os moradores do lado de Passo de Torres tinham que atravessar de balsa ou em sua maioria, em canoas. Avista-se uma delas no meio do “rio de muitas curvas”, como podemos comprovar, com seu trajeto até a serra. 

sábado, 27 de abril de 2013

O Velho Chalé e as Barraquinhas

Chalé na Praia Grande, 1948.Fonte: Acervo Ênio Rosa, 2006. legenda

Nesta imagem de 1948, percebemos a invasão imobiliária na orla litorânea, cuja construção de grandes residências para veraneio já despontam na paisagem. Os grandes sobrados em madeira de lei em estilo inglês passaram a dar um toque de requinte ao balneário. Esse belo chalé era de propriedade da Sra. Marieta Chaves Barcelos, tradicional veranista de Torres. Na faixa da areia é possível ver as cadeiras com sombreiros para o descanso e conforto dos veranistas. Esse luxo e comodidade era privilégio apenas dos turistas que os alugassem ou então que fossem sócios da SAPT (Sociedade dos Amigos da Praia de Torres).



Barraquinhas da SAPT, 1950.
Fonte: Acervo Casa de Cultura do Município de Torres, 2006.

A Praia Grande na década de 1950, passou a ser um ponto de referência para quem buscava o “glamour” no balneário de Torres. As construções imponentes, espaço amplo para lazer, vigia permanente de salva-vidas no alto da Torre e as cadeiras dotadas de sombreiros, ou toldos, para quem desejava proteger-se do excesso de sol. A imagem é típica de uma praia europeia do litoral mediterrâneo, capaz de confundir qualquer leitor se não houvesse referências, o que denota resquícios dos “Anos Dourados” no Brasil.



Vista Parcial da Praia Grande, década de 1950.Fonte: Acervo Casa de Cultura do Município de Torres, 2007.
Aqui temos avistamos parcialmente a Praia Grande, foto aérea tirada na década de 1950. Nela podemos ver em destaque grandes edifícios que despontam na paisagem litorânea. Ao fundo observam-se dunas e as “três torres”. Na área de banhos o destaque fica por conta dos toldos com bancos para veranistas dispostos em fila (barraquinhas), dando ao lugar um aspecto das áreas de veraneio da “Riviera Francesa[1]” na Europa.




Barraquinhas antigas com o Quadrado do Picoral ao fundoFonte: Centro Municipal de Cultura de Torres


A foto acima complementa o tema, comprova que nos tempos do Balneário Picoral já havia as barraquinhas com aspecto mais simples, sem os bancos. Logo se deduz que Picoral trouxe tal ideia da Europa, pois conforme RUSHEL, (1986), apud ELY, (2004) o empreendedor torrense viajava para outros locais de turismo para trazer inovações à vila das Torres. A SAPT, então, aprimorou as barraquinhas continuando com essa prática até a década de 1990, pois uma decisão judicial obrigou o clube a retirar todas elas.




[1] Também chamada de Costa Azul, esta região é considerada uma das áreas mais luxuosas , caras e sofisticadas do mundo.




segunda-feira, 22 de abril de 2013

As Carrocinhas da Praia



Fonte: Acervo digital Casa de Cultura de Torres




Fonte: Acervo Domingos Matos

   Estas fotografias das décadas de 1940 a 1980, mostram o interesse dos pais em registrar seus filhos ainda crianças para a posteridade. Para  os fotógrafos profissionais era comum elaborar a legenda: "lembrança”, como é o caso de dois dos  registros fotográficos aqui postados.  A maioria das fotografias registram o momento de  crianças que veranearam ou moraram em Torres nesse período. Era comum se ver as carrocinhas puxadas por cabras e bodes utilizadas por fotógrafos ambulantes, que ganhavam algum dinheiro fotografando crianças; mas algumas crianças torrenses elaboravam essas carrocinhas para também ganhar um dinheiro no aluguel das mesmas.  Como é caso dos irmãos Domingos e Enedir Matos (foto ao lado). Observamos aí a diferença social entre muitos torrenses e os veranistas, como também mostra a foto na Rua José A. Picoral de 1949 (abaixo).



Fonte: Acervo do autor

    Também podemos constatar olhando a foto abaixo, um número considerável de carrocinhas que  disputavam o espaço na Rua de Cima ( Rua José A. Picoral). Circulavam, além da praia, perto dos principais hotéis, em pontos estratégicos como na esquina em frente ao Hotel Cruzeiro, ou como na outra foto abaixo nos gramados da Praia Grande ou Prainha. Imagina-se a euforia dessas crianças, de um lado para usufruir das miniaturas que chamavam a atenção infante, e do  outro, da possibilidade de faturar e garantir o dia. Diga-se de passagem, a economia de Torres era muito precária, portanto existiam muitas famílias desprovidas de numerários, quando as crianças ou adolescentes, que se envolviam nesta prática, ganhavam umas moedas, a "festa" estava garantida. 

Fonte: Acervo digital Casa de Cultura de Torres


Fonte: Acervo digital da Casa de Cultura de Torres
  Nessa foto acima, do ano de 1943, estão na carrocinha os irmãos Marilu Marcus Martins de Lima, filhos de Paulo  Martins de Lima e Lucia Martins de Lima, casal que a partir de 1936 frequentavam o balneário, portanto um dos veranistas mais tradicionais da "Mais Bela". Esse local é perto da sua casa de veraneio da família, na Prainha. O senhor Oscar Martins de Lima, irmão dos protagonistas da foto, em um depoimento, mencionou que fora da temporada as cabras tinham outra função,  que era de aparar toda a grama que fosse possível, principalmente no Morro do Farol, onde ficavam até que fossem requisitadas para  a rotina das carrocinhas. Para que elas não invadissem os quintais das casas no sopé do morro, os moradores se obrigavam a colocar cercas anti-cabras.   
      As carrocinhas já não exitem mais, ficou na saudade, que podemos saciá-la com estas imagens. mas na década de 1980 ainda encontrávamos na Praia Grande, como vemos no registro abaixo de 1981, onde estão posando para a câmera fotográfica, os primos Lucas Martinato Wiltgen e Flávia El-Andari. Ou ainda, na outra foto, em 1983, com a menina Paula Natira Martins Matos na Praia Grande. Felizes num dia inesquecível, em tempos onde simples passeios de carrocinha marcavam momentos para o resto da vida, Hoje! só se for em um parque temático; são os novos tempos.
Fonte: Acervo de Kareen Martinato

Fonte: Acervo de Paula Natira 

Fonte: Acervo João Barcelos





sábado, 20 de abril de 2013

Segundo Hotel Familiar

Fonte: Acervo João Barcelos



Na leitura da imagem anterior comentamos sobre o primeiro hotel de Torres, mas como mostra a FOTO, vemos outro “Hotel Familiar”. Apesar de a fotografia estar em condições ruins, podemos ver algumas diferenças; entre elas vemos: os primeiros movimentos de automóveis no balneário, o tipo de hóspedes já passam a ser outro, mais direcionado ao lazer e não somente de transeuntes como era no anterior. O estilo da edificação lembra mais o germânico, além de ser de madeira. Já o primeiro era de alvenaria com estilo açoriano. Também vemos o nome do proprietário na parede, mas dessa vez está escrito: “Teló”; Ludovico Teló, um italiano que nos anos 20 do século passado, talvez atraído pelo “porto que não saiu”, percebeu que não mais havia o hotel anterior, batizou então, o seu estabelecimento com o mesmo nome, e outra diferença é que o local era na Rua de Baixo, esquina Lomba do Neguinho. “Traduzindo”: Rua Júlio de Castilhos com a Rua XV de Novembro.
Este hotel ficou marcado na História local, por causa de um crime que abalou por décadas, não querendo fazer um trocadilho, as famílias torrenses. Conforme os depoimentos dos irmãos Paulo Batista (in memorian) e João Dalolli, o proprietário do mesmo foi assassinado pelo policial conhecido como “Neguinho”, a mando do Delegado de Polícia, João Freitas de Oliveira, que tinha um caso com a esposa do hoteleiro. Estava tudo correndo bem, quando outro hoteleiro, o famoso José Picoral, intervém e denuncia o FATO à polícia de Porto Alegre, onde houveram investigadores que desvendaram o crime. Sem perceber, achando que tudo estava bem, foram presos, o delegado da vila, a viúva e o algoz. Por isso que por muito tempo, antes de se estabelecer o Banco do Brasil, aquele trecho era chamado de: “Lomba do Neguinho”. O casal que cometeu o crime casaram-se na prisão, após saírem, abriram um armazém de secos e molhados, primeira mente na capital e tempos depois em Passo de Torres, bem em frente a rótula da rua da igreja. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Primeiro Hotel de Torres


Fonte: Acervo João Barcelos


Para quem conhece um pouco da História de Torres, já ouviu falar, ou fala, que o primeiro hotel a estabelecer-se no balneário, foi o famoso “Hotel Picoral”, também conhecido como o empreendimento: “Balneário Picoral” (Como era grafado em sua fachada). Mas como mostra este importante registro fotográfico, em São Domingos das Torres tiveram outros hotéis e pensões antes do famoso hotel citado anteriormente. Era o Hotel Familiar, estabelecido na Rua de Baixo (Rua Júlio de Castilhos), perto de onde está hoje, a escola São Domingos, e pertenceu ao italiano Adolpho Guilloux. De acordo com meu saudoso amigo João Barcelos, que se dedicou na pesquisa de nossa cidade, já no alvorecer do século XX, exatamente em 1901, já existia o hotel na pequena vila, além de 120 casas, umas três casas comerciais, uma estação telegráfica, uma agência de correio e uma escola pública.
Caixeiros viajantes e tropeiros eram quem mais se hospedavam lá, e, raramente, políticos e turistas. Mas foi ali, comprovadamente, que os primeiros visitantes pagaram as primeiras diárias na vila, a contento do intendente Coronel Pacheco, que queria desenvolver o turismo da praia, até então, muito desconhecida.
Na imagem, da década de 1910, podemos comprovar o perfil dos hóspedes em frente ao hotel, trajando roupas típicas da época, com suas mulas encilhadas, que tanto percorreram nossas terras desbravadas por seus antepassados vindos de Biaça (Laguna). Outro detalhe é que a estação do ano do momento do registro, deveria de ser outono ou primavera, pois todos estavam vestindo casacos. Vemos várias crianças perto de uma das portas, com seus chapéus, de uso muito comum naquele período. E claro, além de curiosos nas janelas e uma figura, entre as portas, com uma pose de autoridade. Uma das personalidades que se hospedou no Familiar, era o telegrafista catarinense Bernardino de Senna Campos, muito conhecido na História de Araranguá.

domingo, 14 de abril de 2013

Um dia normal na loja do Ídio



Fonte: Acervo de Fernando Feltes


Esta fotografia gentilmente cedida por Fernando Feltes, filho de Ídio K. Feltes, um dos primeiros fotógrafos de Torres, nos ilustra os “Anos Dourados” da “Mais Bela”. Trata-se do cotidiano da Rua Júlio de Castilhos, na década de 1960. Em primeiro plano vemos, estacionada, uma lambreta, símbolo da liberdade da juventude da época, inserida no mundo capitalista, em busca de aventuras, ousadias e rebeldias: temas apelativos do cenário “hollywoodiano”. No segundo plano vemos dois jovens, escorados na parede, vestindo camisas brancas, sendo que o da esquerda (parece ser o Orlando Feltes) apresenta-se bem à vontade em público, com a camisa de gola desabotoada, confirmando as influências de Elvis Presley e James Dean. Ainda vemos quase imperceptível, uma criança no meio dos dois rapazes, talvez, admirando tal veículo. E por fim, a saudosa loja de ferragens, material de caça e pesca e fotografias de Ídio K. Festes, que ainda hoje podemos contemplar a sua fachada original. No detalhe se observa a pequena vitrine, onde paravam vários torrenses curiosos para ver um famoso passarinho, que lamentavelmente não aparece na foto. Era um brinquedo de equilíbrio, que imitava uma ave bebendo água. Por muitos anos ali ficou e várias gerações o conheceram. Quem dos torrenses natos já não viu, ou ouviu falar, do “Passarinho do Ídio” ? 


Entre no site http://www.sobaslentesdetorres.comunidades.net/  e confira mais fotografias, Comentários e outros  ´´aspéctos da cultura torrense.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Descida à Furninha





Fonte: Acervo digital do Centro Municipal de Cultura de Torres



Apesar de não ser um balneário muito procurado por veranistas no alvorecer do século XX, São Domingos das Torres oferecia como atrativo suas formações rochosas incomuns para a orla litorânea gaúcha. Motivação para enfrentar dificuldades no percurso, que durava uns três dias de viagem. Mas para compensar a aventura, as maravilhas da vila  já atraiam  curiosos, que contemplavam as formas e as cores paradisíacas. Eram eles, estrangeiros ou da própria região, ou próximas do Estado do Rio Grande do Sul, Em geral os visitantes eram grupos ainda de famílias que vinham fazer “piquenique” nos fins de semana durante os períodos de férias escolares, sendo poucos os chamados banhistas. A maioria vinha mais para admirar as belezas naturais ou para a pesca de laser. A prática da balnearioterapia só iria ter início a partir de 1915, com a inauguração do Balneário Picoral.
Neste registro fotográfico, podemos avaliar os riscos de morte à que se expunham os curiosos, ao utilizar as escadas de madeira para subir ou descer pelas encostas das falésias, em busca de desafios, ou simplesmente de um bom lugar para posar diante de uma máquina fotográfica.  O Local da foto é na Furninha, umas das furnas da Torre do Meio. A imagem por si só já confirma a exposição textual sobre pessoas e grupos que visitavam a região no início de 1900, pois observa-se, no detalhe, o ano  de 1901, que está “grafitado” na pedra, bem perto da escada. Essa arrepiante escada foi substituída por outras mais seguras. 

A Presença da Etnia Africana em Torres


     A etnia afro-brasileira tem uma significativa importância na formação da sociedade torrense; há sinais de uma presença forte, como indica os registros de batismo, óbitos e casamentos efetuados na Igreja de São Domingos. Alguns aspectos importantes desta etnia precisam ser ressaltados na historiografia torrense: O primeiro é que os negros formaram a partir da década de 1840, um quilombo no “Morro dos Fornos”, que também era conhecido como o “Morro dos Negros”, as terras ocupadas eram devolutas dos colonos alemães, extremavam com a Colônia São Pedro de Alcântara. Nessa região fizeram seus ranchos, plantaram laranjeiras, fizeram roças e constituíram uma comunidade na mata virgem. Não se sabe ao certo de onde vieram, mas sabe-se que foi durante a Guerra dos Farrapos, e os colonos alemães praticamente não utilizavam o trabalho escravo, salvo o agricultor José Raupp, que era agricultor e comerciante. Em 1849, os quilombolas foram atacados por “capitães do mato” e dispersaram-se.
   O historiador Ruschel apontou algumas curiosidades sobre a etnia africana em terras torrenses, uma delas é que as autoridades públicas de São Domingos das Torres tomaram a iniciativa de abolir a escravatura antes que a Princesa Isabel a assinasse na Corte, foi em 1884, com a Lei municipal expedida pela Câmara Municipal de Torres. Até 1890, com o primeiro Recenseamento Nacional, os “negros” representavam 3% da população torrense, isso devido ao poder aquisitivo baixo da população inicial, e também porque  os donos de propriedades eram adeptos ao trabalho entre familiares, além da proibição dos colonos alemães de utilizar a mão de obra escrava. Também vale acrescentar, que nasceu em Torres, em 1850, Sebastião Serafim Coelho, o nosso personagem da foto que está posando em frente à Igreja de São Domingos, onde podemos avistar antigas casas na “Rua de Baixo” (Rua Júlio de Castilhos) e ao fundo a Lagoa da Vila (do Violão) e alguns casebres margeando o Valão. Sebastião era um ex-escravo que era considerado “santo”, era curandeiro e não cobrava nada pelo atendimento. Morreu com 108 anos em Canoas (RS) onde ainda é lembrado por ter feito alguns milagres. Era muito conhecido na Grande Porto Alegre.