Na
metade do século XX “Torres” almejava ser uma cidade próspera com intuito de
crescimento comercial,
tinha ligação através da navegação lacustre pela Lagoa da Itapeva até Osório. A
sociedade torrense estava passando por um clima de tornar-se uma cidade
portuária, com estrada de ferro, e isso estava atraindo pessoas para a região
das Torres. A partir desse momento os torrenses passaram a absorver a ideia de
um porto, porém quatro tentativas fracassaram.
Na
primeira tentativa o Brasil ainda era um Império. Um dos problemas de
comunicação entre o vasto Império eram as suas vias de transporte. Aproveitando
os recursos lacustres da região, que formavam um grande canal interligado
naturalmente, cogitou-se a possibilidade de ligar essa via a um projeto maior,
ou seja, um Porto Marítimo em Torres. O escoamento de produtos na Província de
Rio Grande de São Pedro era muito precário. A entrada da Lagoa dos Patos era um
acesso muito perigoso, tinham muitos bancos de areia e precisava de muito
investimento para fazer um porto. De acordo com Ruschel (apud ELY, 2004) em 1857, o
governador da Província tinha duas alternativas, ou fazer uma barra em Rio
Grande (RS) ou a construção de um porto em São Domingos das Torres. Os
engenheiros ingleses eram a favor, a ponto de orçarem o projeto em três mil e
quinhentos contos de reis em 1861. Porém, por influências políticas muito poderosas,
o porto passou a ser em Rio Grande (RS). Foi feito um relatório em 1875 para
Londres pelos engenheiros, onde constava que um porto em “Torres” era mais
viável economicamente, e em Rio Grande (RS) era mais difícil e mais dispendioso
e obras mais inseguras. Mesmo assim persistiu a decisão anterior.
Uma segunda tentativa foi durante o governo provisório do
marechal Deodoro da Fonseca que agonizava. Um dos motivos dessa crise foi a
denúncia de que o então Presidente da República havia se envolvido em corrupção
com o engenheiro da obra do porto de Torres, pois superfaturou-o. O então ministro Ruy Barbosa denuncia esse superfaturamento mencionado-o em uma carta enviada a uma reunião do presidente com os ministros, justificando que não era contra a obra, mas sim contra a maneira que estava sendo amarrado o contrato, beneficiando o empreiteiro, que era compadre de Deodoro. A maioria apoiou Ruy Barbosa, e o presidente contrariado, perde seus ministros que se dedicaram ao novo regime.
Devido à sua renúncia
e à Revolução Federalista em 1893, a obra foi abandonada. Se fosse concluída, Torres
seria hoje uma cidade bem melhor economicamente, mas por outro lado, estaria
desfigurada, pois entre a Guarita e o Morro do Farol teria um grande cais. E
também os torrenses seriam “deodorenses”, pois a vila se chamaria “Deodorópolis”,
em homenagem ao presidente vaidoso. Anos depois, o seu vice-presidente Marechal Floriano Peixoto,
assumiu a presidência e mudou o nome de Nossa Senhora do Desterro para
Florianópolis (SC) como imposição aos catarinenses, outra vaidade.
A imagem abaixo é, até o
momento, considerada a primeira fotografia de Torres. Pode-se confirmar a obra
inacabada do primeiro presidente da República do Brasil.
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Molhes da Guarita – 1891[92]Fonte: Acervo João Barcelos, 2007. |
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Resquícios dos Molhes da Guarita atualmente.
Fonte: Casa de Cultura de Torres. |
Na
terceira tentativa, no ano de 1905, uma missão de capitalistas estadunidenses, que
segundo Ruschel (1987, apud ELY, 2004, p.144), eram Mr. W. T. Van Brunt, Mr.
Schrred e Mr. Everit, além de uma missão política gaúcha que vieram a Torres para
sondar a possibilidade de reiniciar as obras do porto, iniciadas e
interrompidas uma década atrás. Novamente o projeto não foi viabilizado, pois os
investidores preferiram Santa Catarina por ter carvão abundante.
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Projeto do Porto |
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Estadunidenses visitando a vila de Torres - 1905 |
E a
última esperança foi quando Getúlio Vargas assumiu o governo do estado do Rio
Grande do Sul. Em janeiro de 1928, Getúlio decidiu em sua visita a São Domingos
das Torres, que deveria retomar a ideia do porto de Torres. Quase um ano depois,
uma equipe técnica vem fazer novos levantamentos para tal possibilidade, mas
por questões econômicas e políticas que pairavam contra o estado gaúcho, impossibilitou
a retomada do porto. Quando Getúlio toma o poder federal, ascende nova
esperança, mas novamente não foi possível fazer de Torres uma cidade portuária.